Ouve-me a reza: que alguém rezou
.
Se o amor é pecado, Eu, pecador, me confesso,
de tudo que ainda penso, em meu olhar trasviado.
Se com isto estou perdendo A minha alma, trasviada,
Minha alma não vale nada, eu peco e não me arrependo.
Deste ardor que me inflama Direi, para ser sincero, Que
Dele somente espero Amar-te mais do que te amo.
Se reso nas minhas preces só peço a Deus essa graça;
Que me conceda e me faça amar-te quanto mereces.
Eu vivo, tão descuidado, De tudo mais desta vida,
Que nem me ocorre querida, A ideia de ser amado.
Amor com o feitio desse Que a si, mesmo renuncia,
Como te agradeceria O que eu por ti padecesse!
Deixa tu, pois, que se farte Meu olhar impenitente
todo embebido e contente Da só ventura de olhar-te.
Sem razão fora severa, Como a pobre de uma roseira,
Porque ela, queria ou não queria, dar rosas, senão é primavera.
Deus, que nos pôs face, a face E deu-me os olhos que tenho,
Nisso mostrou certo empenho, em que eu te visse e te amasse.
Por força de lei divina e não, decreto, por gosto. Quando pouso,
em teu rosto, o meu olhar se ilumina. Perdoa a minha insistência.
Dos olhos que a ti levanto: olhar ti-ei é o supremo encanto.
De toda a minha existência. Olhar-te. Delicia Calma! Mar atranquilho!
Sem escolhos! É o pecado dos meus olhos, E a salvação da minha alma.
Confesso-me, nada nego, Amo-te e nisto de amar-te só tenho de minha parte
a culpa de não ser cego. É meu destino, que queres? Eu te amo, porque me encantas.
Tu a mais linda das santas, E a mais santas das mulheres.
Escrito por José da silva caburé, poesias, contos & versos.